Chaveirinho me apareceu num momento dramático da vida. Numa
festa, álcool na cabeça e um coração doído. Gostei e não foi pouco. Depois de
um desespero súbito de não termos trocado telefone, o Santo Facebook concedeu
um milagre de lembrar seu sobrenome.
Encontro marcado, e de esperança na bolsa, lá fui tentando
lembrar o rosto do cidadão. Eis que os dois desceram do carro e eu, de salto
super baixinho, olhei pra ele de cima: sim, ele era mais baixo que eu. Mais baixo
que eu, que amava ser pegado pelo colo, que adorava um homem grande pra meu
pendurar no pescoço. Mas o papo fluiu, e o interesse aumentou inversamente
proporcional ao tamanho dele.
Eu tentava me reafirmar com as minhas amigas, mostrando só a
foto de perfil dele, que de fato fazia sucesso. Num dia, no meio da roda de
meninas, elas constataram que eu e Chaveirinho já estávamos namorando. Aquele “namoro”
guela abaixo não me deixou dormir. Botava
na balança o carinho que ele me dava versus meus irmãos rindo de mim por estar
namorando um tartaruga ninja na ceia de natal. Pensei na situação enquanto
torrava minha grana em sapatilhas e rasteirinhas de todos os estilos.
Daí, numa bela semana, Chaveirinho entrou numa nave e partiu
pra Júpiter. Não ligava e não atendia. Simples assim. Não foi minando... num
dia eu estava no céu e no outro terra, e caí de cara. Quando finalmente e por
minha insistência idiota consegui contato com o espaço sideral, o astronauta
Chaveirinho disse que não era a pessoa certa pra mim, que estava muito solto no
mundo e indisponível pra namorar.
Deu vontade de vomitar palavras escrotas pra ele, pra quem
na verdade eu estava fazendo caridade... Porque foi ELE quem marcou viagens,
que me levou em casa pra conhecer os pais, que me buscava no trabalho pra
almoçar.
Mas sabe, estar com a razão não faria ele ficar comigo. Entende?
Mesmo sabendo o quão idiota ele estava sendo, minha argumentação não iria
arrancar dele um pedido de desculpas e rosas na minha mesa no dia seguinte. Ele
era um babaca, e os babacas, você sabe...
Chorei muito. Mesmo. Porque tomar um fora de um homem mais
feio que você (leia-se mais baixo) é muito pior que de um gatão. Sua
auto-estima fica detonada. Você fica perguntando: “Se eu perdi pra ele, vou
empatar com quem?”. É foda.
Eis que o mundo, vocês sabem, é redondíssimo. Mesmo sendo
levemente achatado, passei por uma fase chata, mas ele girou. Numa festa, mega
produzida, sou abordada pela criatura, ele mesmo, com todo seu tamanho.
Chaveirinho me achou linda, e, eu, achei ele baixo. Como sempre.
E por sorte dele, eu estava sapatinho baixo. Falou do meu perfume, falou da
minha boca. E eu? Falei da minha casa nova, do meu carro novo, do meu retorno
pro Brasil. Se pudesse, tinha até falado que ganhei na mega-sena pra que eu
queixo dele caísse de vez no chão. É Chaveirinho, a sua brincadeira de “troco
uma escova de dente por uma gata” foi um fracasso.
O que leva um cara a dar um fora fenomenal em uma garota que
ele estava curtindo? Porque estava mesmo. Ligava sempre, pagava a conta,
deixava escolher os lugares, mandava mensagens fofas.
Sabe o que é? Mente fraca. Os homens preferem estar na vibe
dos amiguinhos, indo pra lá e pra cá nas baladas do que preso num
relacionamento. É o lance do nextel... (dizem que ter um nextel e namorada, só
é legal se seus amigos também tiverem).
Tadinho, pagou caro. Exatamente um ano depois, os amigos
agora não parecem ser tão legais e repetem as mesmas historias. E ele queria
estar comigo.
Mas nós mulheres somos vingativas. Quando ele veio, minha
autodefesa já tinha criado uma lista muito grande de defeitos nele. Defeitos
que nem mais 40cm poderiam corrigir. Eu disse vingativas? É lógico que não dei
o fora logo de cara. Dei o telefone denovo, e nem anotei o dele. E quanto mais
eu desmarcava, mais convites ele fazia. E o nível dos convites melhoravam. Começou
com um barzinho, passou para um sushi e terminou com um fim de semana em Buenos
Aires. Mas ainda não terminou. Porque até agora eu estou dando corda no MSN.
Quando o convite chegar em férias na Europa, eu paro. E vai terminar assim: “Chaveirinho,
nem sei como te dizer, mas há uns 2 dias que eu fiquei com alguém muito
especial e estou gostando dele, por isso não poderemos sair, mas vamos manter a
amizade, ok?”.
Má, pero no mucho.
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